Sunday, May 01, 2005

O DIÁRIO ESCONDIDO DE SERAFINA

(Rafael Araújo dos Santos)

Querido diário. Minha mãe diz, que desde pequena eu gostava de esconder debaixo de mesa, atrás de sofá dentro de guarda–roupa, e só saia quando eu queria voltar para o mundo. Claro isso duraria dez, meia, duas horas.
Agora que eu já cresci, eu resolvi esconder em lugar mais difícil. Eu escondo, por exemplo, na casa do meu avô Quin, na casinha perto do pé de abacateiro. Isso eu falo para a minha mãe aonde é o meu esconderijo, mas quando eu estiver sumida para não me procurar. Ainda bem que todo o pedido que eu falo para ela, ela faz para mim.
Mas o esconderijo que eu gostei mais foi na casa do senhor Nonô, ou, por exemplo, no quintal da casa dele.
Você acredita diário. Ele desmontou alguns caixotes de madeira, e fez para mim tipo uma toquinha. Parece um lugar de um conto de fadas e bruxas. Dá até para sentar na almofada para deitar, meio encolhida. Ele sabe tudo que eu vou falar, entende tudo o falo, não fica fazendo perguntas. Eu sei que eu não vou ficar escrevendo em você todos os dias, e qual nome eu vou dar para você, mas deixa pra lá, por enquanto eu não vou escolher um nome em você eu vou te chamar de diário por enquanto. Eu estou escrevendo em você, neste mesmo local que o senhor Nonô fez para mim. Que eu acho o lugar mais, lindo deste mundo, o lugar mais confortável. Eu vou te guardar em uma sacolinha plástica, caso chover você pede ao senhor Nonô para te colocar lá dentro da casa dele, que eu sei que ele não vai ficar xeretando nas minhas coisas, que é mais seguro do que ficar andando de cima para baixo com você.

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